Buckley, R. 2003. Environmental Inputs and Outputs in Ecotourism: Geotourism with a Positive Triple Bottom Line? Journal of Ecotourism, 2 (1): 76-82.
O ecoturismo é um conceito complexo, sendo definido por diversos critérios (ao menos cinco): produto baseado na natureza, gestão de mínimo impacto, educação ambiental, contribuição para a conservação e contribuição para as comunidades locais.
O ecoturismo é um conceito complexo, sendo definido por diversos critérios (ao menos cinco): produto baseado na natureza, gestão de mínimo impacto, educação ambiental, contribuição para a conservação e contribuição para as comunidades locais.
Para que o ecoturismo alcance todos os benefícios possíveis e almejados em sua idealização, torna-se necessária a atenção sobre estatísticas econômicas obtidas a partir de critérios claros e pouco subjetivos.
O autor cita quatro elementos que são causadores de incertezas no uso dos conceitos de ecoturismo.
Em primeiro lugar observam-se questões relacionadas aos critérios usados nas definições: o “produto” deve ser de base natural ou também pode ser cultural? Qual o limite entre natureza e cultura no ecoturismo? Os conceitos de sustentabilidade e impacto mínimo são relativos e precisam de comparativos para serem estabelecidos.
A segunda fonte de incerteza refere-se ao grau de satisfação dos critérios estabelecidos para o ecoturismo. Para que a atividade se estabeleça, devem ser atendidos todos os critérios ou se forem atingidos apenas parcialmente já seria satisfatório? O bom desempenho de um critério pode compensar outro com desempenho ruim? Os interesses comerciais visam muito os produtos de base da natureza em si, mas se esquecem da gestão, educação, conservação e retorno social.
A terceira fonte diz respeito à quantificação do desempenho de cada critério. A simples impressão de um folder por uma empresa seria interpretação ambiental? A solicitação de uso racional da agua é gestão ambiental?
A quarta fonte refere-se às bases para comparação de desempenho. Locais com padrões ambientais diferentes devem ser rankeados de forma diferente. Deve-se comparar limites legais para qualidade ambiental ou atividades similares em locais diferentes?
O INPUT ambiental (ou entrada ambiental) refere-se ao atrativo em si, ou seja, aquilo que faz com o turista se sinta motivado a viajar, enquanto que o OUTPUT ambiental (saída ambiental) corresponde aos custos e benefícios da atividade turística sobre o ambiente.
Não se deve pensar os inputs e outputs de forma isolada pois pode acarretar em uma análise tendenciosa da atividade turística. Deve-se identificar, quantificar e realizar o somatório de todos os custos e benefícios.
Algumas questões críticas são elencadas pelo autor como, por exemplo:
- no input, se um atrativo for baseado na cultura humana, deverá ser considerado como ecoturismo? Na prática, na maioria dos casos não há grandes conflitos no que diz respeito à promoção de passeios culturais como sendo ecoturismo.
- no output, se os custos e benefícios forem exclusivamente sociais, a atividade será significativa em si ou apenas quando elas refletirem na redução do impacto sobre o ambiente? Para o ecoturismo efetivamente contribuir para a conservação ambiental, ele deve beneficiar as pessoas que possam efetivamente proteger o local.
A gestão de mínimo impacto deve ser vista como uma forma de reduzir os custos ambientais de uma atividade. Porém, deve-se ter em mente sempre o objetivo maior da atividade (baseando-se no tripé do desenvolvimento sustentável) e não apenas os mecanismos para se alcançar os benefícios ambientais (educação ambiental e gestão ambiental, por exemplo).
Sendo assim, o ecoturismo seria o turismo que satisfaria os critérios de inputs e outputs ambientais. Porém, apesar dos produtos turísticos desse segmento serem quase sempre baseados na natureza, podem ocorrer casos de estabelecimentos urbanos que invistam na conservação ambiental, como por exemplo, na proteção de reservas florestais.
Para tentar reduzir a generalização, alguns termos são criados para definir subsetores da atividade turística, no entanto, essas divisões não parecem ser postas em uso na prática do marketing turístico e em documentos políticos.
O autor aborda a questão do termo “geoturismo” indicando duas formas de uso: a primeira estaria se referindo à um turismo geológico (turismo para observar rochas basicamente) e a segunda perspectiva seria bastante parecida com o conceito de ecoturismo tomando como base os inputs e outputs, sendo esta última a mais adequada para ele.
O geoturismo seria tratado pelo autor, então, como sinônimo de ecoturismo, tendo o conceito uma perspectiva mais geográfica do que geológica e o geoturista seria aquela pessoa que vai realizar atividades em ambiente natural ou em comunidades tradicionais.
É apresentado o conceito de contabilidade triple-bottom-line (3BL), na qual os custos e benefícios ambientais, sociais e financeiros são avaliados de forma independente. Nessa perspectiva, uma empresa não estará em crédito a menos que todas as três linhas de base (social, econômica e ambiental) sejam positivas.
O conceito difere de “sustentabilidade”, pois vai além da busca da habitabilidade do planeta. Pretende ser uma ferramenta para que se alcancem mudanças nas estruturas comportamentais e sociais humanas buscando estabelecer a almejada sustentabilidade.
A ideia de sustentabilidade como é posta, é difícil de ser alcançada, pois depende de relações e interações humanas com humanos e não apenas com o meio natural, o que para o autor pontua como um entrave para o avanço dos objetivos propostos nesse conceito.
A abordagem 3BL, por envolver questões econômicas e políticas, pode desviar a atenção das questões ambientais mais significativas. No entanto, seu uso pode nortear escolhas de produtos e serviços q apresentem aspectos sociais e ambientais equilibrados e para que possam diferenciar preço e lucro.
Apesar da abordagem 3BL já vir sendo aplicada por várias empresas, as questões financeiras são sempre mais detalhadas que as sociais e ambientais, estas últimas sendo apresentadas muitas vezes apenas para compor um caráter mais “amigável” para a empresa. Uma das causas apontadas pelo autor é que a coleta de informações relacionadas ao alcance social e ambiental nas empresas ainda é menos estabelecida que a coleta de informações financeiras.
Para se alcançar uma contabilidade 3BL positiva, a empresa deve: alcançar uma melhoria líquida na conservação ambiental e um benefício líquido social para as comunidades locais, ao mesmo tempo em que deve gerar um lucro líquido para os acionistas e/ou um ganho líquido para as economias nacionais ou regionais. A empresa deve pensar, portanto, em galgar benefícios tanto para seus acionistas como para a sociedade em geral.
O autor aponta o turismo como o único setor que atualmente apresenta empresas com a possibilidade real de alcançar um 3BL positivo, podendo gerar ganhos reais para a conservação, as comunidades e os acionistas.
O autor indica que, ainda que empresas de setores distintos ao do turismo possam reduzir seus impactos ambientais operacionais, apenas a indústria do turismo é que apresenta a possibilidade REAL de alcançar um 3BL efetivamente positivo. As contribuições positivas à conservação, de forma direta ou através das comunidades locais, é que tornariam o ecoturismo com papel de destaque no cenário ambiental.
A necessidade de uma contabilidade completa dos custos e benefícios força a empresa de ecoturismo, e também seus acionistas, clientes, funcionários, entidades reguladoras e as comunidades locais, a identificar e ponderar tais custos e benefícios de forma mais completa.
As formas tradicionais de eco certificação muitas vezes não ponderam de forma adequada os custos e benefícios ambientais e sociais, o que pode mascarar a verdadeira ideologia da empresa.
A contabilidade 3BL (refere-se às três dimensões do desenvolvimento sustentável – econômica, social e ambiental), portanto, é uma forma de combinar conceitos de contabilidade ambiental com a segmentação do mercado do turismo.
A adoção dessa proposta poderia levar alguns princípios do ecoturismo a serem aplicados ao turismo em geral, de modo a contabilizar de forma mais adequada os custos e benefícios econômicos, sociais e ambientais.
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